sexta-feira, janeiro 25, 2008


Kara e Jan Kmam
Por
Nazarethe Fonseca
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Capítulo VII - Distrações.

O sangue de Alma em minha boca tinha um sabor estranho e amargo. A deixei adormecida sobre o leito e parti, deixe a casa, a rua e segui para o único lugar no mundo onde sabia ser verdadeiramente amado. Algo me inquietava. Sentia meu coração bater aflito como há séculos não ousava bater. Uma sensação extrema e perturbadora em minha idade.

Pior que isso era o fato de não conseguir conter-me, me dominava diante dela do seu corpo, do desejo de sorver seu sangue... Talvez fosse seu cheiro, o corpo que me lembrava uma mulher que amei há séculos, tudo estava cada vez mais confuso e não encontrava as respostas que buscava, só mergulhava em alienação e culpa. Como se ainda fosse humano, quando tudo dentro de mim berrava vida e inocência.

Vampiro, imortal, séculos de noites e vitimas poderes, eu não vivia segundo os medos mortais, pecado, culpa, mas os conhecia bem, muito bem. Passei a conviver com eles no exato momento que beijei Kara a primeira vez. Ela estava viva e em seu sangue, em cada batida de seu coração havia a doçura dos que morrem, daqueles que vivem cada dia sem saber qual será o último. Nele o sabor do amor infinito que começava a nutrir por mim e que negava com os lábios, mas admitia com o olhar, com o próprio sangue,

Ali em cada gota preciosa estava à esperança, o medo, desejo, culpa, tanta culpa. Não precisava sentir nenhum desses sentimentos, era livre diante de todos eles, estava acima de todos. Uma grande mentira, de certo, bastava um beijo dela para que percebesse o quanto a magoaria caso ela viesse a descobrir meu “deslize”,se assim poderia chamar. Kara mesmo vampira me conduzia como se fosse um homem, e exigia de mim as mesmas atribuições. Como poderia? Quando ela entenderia, que poderia me dar ao prazer de possuir uma mortal, se assim desejasse como minha escrava?! Talvez quando me permitisse vê-la nos braços de outro, ou seja, nunca!

Subitamente senti-me como um homem que afunda num pântano sem conseguir se segurar a borda. Há meses carregava o peso de trair a mulher que amava nunca me senti tão humano, faltava-me ânimo para matar Alma, só era arrastado sem vontade... Era preciso fazer algo. Um estranho sinal apoderou-se de minha mente e me rodeava. Foi há uma hora, estava grudado a carne de Alma, sugando seu sangue,imerso nela,perdido em prazer quando o olhar de Kara invadiu minha mente,como se ela chorasse, gritasse meu nome.E o sangue de minha “amante” se tornou um cálice de fel e arrependimento.Porque voltava ao inferno se vivia no paraíso?

Voltei meus passos para um caminho que se apagava lentamente rumo aos braços da mulher que amava. Enquanto a ilusão que me rodeava sumia aos poucos, me fazendo ver minha ignomínia.

Entrei no apartamento com o nome de Kara nos lábios, a sensação continuou incomodando. O apartamento estava vazio, faltavam somente quatro horas até o amanhecer. Liguei para seu celular, ela não atendia e rapidamente a ligação foi para caixa postal. Imediatamente o incidente com a falsa Sentinela veio a minha mente. Pegue a espada e sai novamente, algo estava errado. E somente quando cheguei à rua percebi o quanto. Não conseguia falar-lhe mentalmente, ela não poderia estar tão longe assim! O fato é que ela o estava me afastando propositalmente. Defendia sua mente com o truque que Asti havia lhe ensinado. No entanto, sabia que ela não podia o afastar por muito tempo, se é que estava fazendo realmente isso. Confuso e extremamente preocupado varri a ruas por onde ela estava acostumada a andar, caçar. Não havia nenhum sinal, o rastro de seu cheiro estava muito fraco, possivelmente não se alimentou por aquelas imediações.

Faltava uma hora para o amanhecer quando retornei para o apartamento, não havia sinal de Kara. Simplesmente esperei vendo a madrugada morrer pelas janelas em completo estado de desespero. Andando pelo apartamento como um animal enjaulado, buscando respostas, ligando insistentemente para um celular agora mudo.


SEGUNDA PARTE


Finalmente liguei para Togo e me vi isolado, ele não tinha noticias de Kara e pediu que fosse dormir. Afirmando que tomaria medidas ainda àquela manhã. Vendo a luminosidade fraca do dia fui obrigado a fechar as persianas. As luzes se acenderam automaticamente, não consegui dormir, não poderia. Sua presença permanecia, contudo, silenciosa. E quando o sol nasceu em definitivo, ela havia desaparecido dentro da consciência coletiva dos vampiros, estava adormecida.

Restou-me mergulhar no que sobrou de sua presença as lembranças, sua voz, se me entregasse ao desespero enlouqueceria ainda aquela manhã.

-Não Kara.-tentava finalizar o assunto.

-Por que não?-continuou agitada e meiga.

-Teimosa. -murmurei tocando seu rosto.

-Sim, sou, agora responde. -Kara insistiu de joelhos a minha frente.

-Não pode ler os pergaminhos de mentaslisação, é muito jovem ainda. -disse tentando convencer quase uma Deusa. -Quando fizer trinta anos de vida imortal todo conhecimento será seu. Entendera melhor as coisas que lhe rodeiam, o mundo lhe parecerá diferente. Até mesmo o sangue que hoje tem um sabor estranho será mais doce.Estará mais madura.

-Você mesmo afirmou que sou precoce, por favor, deixe-me ler os pergaminhos. -pediu risonha tentando me convencer com seu charme.

-Eles podem causar delírios e visões, não a quero doente. –fui firme,afinal era verdade.Os pergaminho podiam causar delírios,visões,era cedo.

-Tratam-me como se fosse uma criança. -queixou-se cruzando os braços.

-Diante de nós é uma criança, e teimosa. -revelei vendo-a irritasse de imediato.- Entenda é preciso obedecer.Vou procurar pergaminhos a altura de sua idade.

-Não me faça ri, existe literatura infantil para vampiros?-debochou como bem sabia.

-Sim,existe.-entrei em seu jogo.-“Branca de neve e os sete vampiros”.-brinquei rindo se sua raiva,fica linda aborrecida.

-Otávio me comentou sobre alguns pergaminhos que posso ler... Sobre magia... Já sei latim, então será fácil,permita e ele me emprestara.

-Não Kara.-fui sério.-Não vou deixar que se envolva com magia é muito perigoso.-vi sua face sair de raiva para triste.É cedo. -fui duro. -Asti já deu o mau exemplo agora Otávio a imita. -exclamei realmente farto de intromissões. -Eles não vão mimá-la.

-Não é justo. -falou mal se erguendo de um salto.

-O que quer Kara que não te dou?-perguntei tentando aclamar sua curiosidade e revolta.

-Conhecimento, liberdade.-queixou-se indo em direção a saída.

-Haverá tempo para tudo, agora tente apenas viver cada noite. Aonde vai?

-Quero ficar só. -ela disse seca e não deteve o passo.

Cruzou pela porta e sumiu. Subitamente senti-me o vilão, um mestre cruel e corri ate a porta. Kara estava parada no corredor como se me esperasse.

-Vai me seguir ou caminhar comigo? -ela perguntou ficando a minha frente.

Kara estava bastante avisada, havia evoluído, e a cada dia parecia mais e mais desperta para sua natureza de vampira. Imaginou que a seguiria e me esperou alerta.

-Caminhar com você. -sussurrei apaixonado, manso como somente ela era capaz de me fazer ficar com seu olhar.

Ela grudou-se ao meu corpo e me beijou longamente, envolveu meu corpo, apertou-me, acariciando minhas costas, por fim murmurou junto ao meu ouvido:

-Preciso caminhar sozinha hoje. -seus lábios tocavam minha pele. -Voltarei em algumas horas, me espere. -dizendo isso me soltou.

Estava tonto com a força, o sabor de seu beijo embriagador. Havia algo nela, algo em sua boca quando ela desejava. E seus beijos se tornavam uma espécie de intoxicação que me levava a razão, deixava-me tonto e a sua mercê. A vi partir em seu passo de felino, e a vi voltar à face e sorrir misteriosa e desaparecer.

O certo é, que teria de esperar a noite chegar para encontrar minha senhora, a dona de meu coração. Mas isso me custaria muito, quase parte de meu coração.

Otávio e Asti chegaram ao apartamento antes mesmo de se alimentarem, Jan. estava apreensivo, abalado, quando a noite cobriu a cidade beirava a violência. Saiu e a buscou pelos cantos que geralmente usava para alimentar-se, mas não a encontrou. A Sentinela confessou ter perdido seu rastro,ninguém sabia ando Kara estava. Voltou ao apartamento na companhia de Otávio mudo, mergulhando em perguntas, dúvidas e certezas.

-Acalme-se,ela esta viva, isso é certo. -Otávio disse seguro.

-O que a faz manter-se afastada?

-Não sei, diga-me você que a compreende com todas as suas “manhas e hábitos mortais”. -Otávio disse aborrecido, afinal Jan mais uma vez tinha problemas. -A paparica em demasia, e veja o que recebe, silêncio!Fuga, pois isso é uma fuga.-acusou.

-Otávio. -Jan começou tentando manter-se lúcido. -Algo de muito sério aconteceu, Kara jamais se afastou de mim deste modo. Ela ainda beira a mortalidade,tem seus medos...-Jan resumiu preocupado demais para revidas as criticas do ex-mestre.

-O que Togo disse?-Asti quis saber tocando o ombro de Jan passando-lhe força.

-Marques a perdeu de vista,assim como o segundo Sentinela,ninguém sabe onde Kara esta. -sua voz estava carregada de mal-humorado.

-Ela tem poder para tanto?-Asti disse fitando Otávio e Jan interrogativa.

-Para afastar-se de mim sim,afinal Mademoiselle a ensinou como me manter distante de sua mente!-Jan queixou-se aborrecido fitando Asti.

-Não acredito que deu-lhe este conhecimento?!-Otávio criticou duro.

-Gosto dela,estava tentando ajudá-la... –Mas a verdade é que nesse momento ela está fazendo bem mais que afastá-lo, afinal. Ela está em Paris e você não consegue farejá-la?-Asti disse levantando mais dúvidas na mente atormentada de Jan Kmam.-Alguém mais forte,mas poderoso a esta ajudando a manter-se escondida.E este alguém não sou eu. -dizendo isso Asti partiu, não ia ficar e ser censurada por Kmam.

-Tenha paciência.-Otávio pediu olhando a face cansada de Jan.-Dê há ela algumas horas mais ela vai aparecer. -Otávio falou puxando o casaco sobre os ombros.

-Kara jamais fez algo assim, será que não vê, ela está em perigo. -ele fazia conjecturas com o coração aflito. -Não posso ficar parado esperando que ele volte... -Jan avisou ficando de pé. -Vou encontrá-la nem que tenha de andar por toda Paris.

-Espero que consiga. -Otávio disse o fitando com preocupação.

Jan Kmam andou pela cidade a noite toda sem nada encontrar,matou com extrema violência e quando entrou no apartamento era a visão de um vampiro perturbado.E num ataque de fúria quebrou objetos no apartamento,por fim jogou-se na cama e agarrou-se com um peça de roupa de Kara completamente exausto.

Continua...

Cena do próximo capítulo...

-Onde ela está?-Jan Kmam perguntou a Asti quase louco,enquanto Otávio apenas os observava mudo.
-A vi próximo ao Cemitério de Montmartre,mas ela não se deteve, sumiu diante dos meus olhos como se fosse uma vampira de quinhentos anos!-queixou-se,preocupada com Jan.-Nao consegui senti-la,seguir seus passos,sinto muito.O que aconteceu?
-Eu não sei.-ele realmente não supunha saber.-Ela simplesmente não voltou para casa,sumiu a três dias.-Jan Kmam andava de um lado a outro,estava na casa de Otávio.-Não consigo sentir sua presença...Ela não quer minha presença...Está fugindo de mim.-falou rouco pela agonia que sentia.