quarta-feira, março 12, 2008




Kara e Jan Kmam

Por

Nazarethe Fonseca

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Capítulo IX - A Febre do Sangue.



Otávio pressentiu o perigo. E sozinho, voltou ao apartamento de Jan Kmam. A porta estava entreaberta, Otávio entrou e sentiu a presença de seu ex-pupilo. Ele estava sentado no escuro, às pernas flexionadas, a mão no queixo, o anel de safira cintilando na escuridão como seus olhos. Matou com ferocidade, em seus lábios ainda havia sangue de suas vitimas. Os cabelos estavam soltos à camisa respingada de sangue. Não se moveu ao ver Otávio sentar-se a sua frente. O olhar escuro perdido no vazio, mas cheio de um toque maligno, frio.
- O que pensa que esta fazendo?
- Vá embora. - murmurou em resposta.
- Não se comporte como uma maldita criatura mortal, não fica bem em sua posição de favorito do rei.
- Apenas deixe-me Otávio. – pediu muito baixo, a voz desumana.
Otávio levou os dedos às temporãs. E se preparou para o pior. Jan Kmam era um vampiro especial, o que mais perto chegou do rei dos vampiros. O seu favorito, mas tal condição o fragilizava.
- Não se deixe levar pelo desespero,Kara vai aparecer mais cedo ou mais tarde. -Otávio tentanva fazer com que Jan falasse. - Em 1720 eu recebi uma carta de Togo.
Otávio começou jogando como podia, afinal era a lucidez de Jan Kmam que estava em jogo. Ele fitou seu corpo e viu os sinais da “febre”. O corpo tenso, as unhas de seus dedos um tanto maiores, a face cada vez mais cruel, diabólica.
- Você deve saber do que se trata. – Otávio insistia.
- Ele pediu que viesse verificar os sinais?- Jan perguntou cínico.
- Togo não manda avisos, ele executa ordens.
- Mande que venham as Sentinelas, posso aceitar as suspeitas dele, não as suas. –falou e sua voz soou menos selvagem.
- Togo não me deu detalhes. Mas o meu dever como seu criador é observar.
- Pedi sigilo, ele somente atendeu nada mais. –Jan disse completamente mudado, como se a fera o houvesse abandonado.
- Gostaria de ouvir de sua boa o que ocorreu.O que Togo, e o próprio Ariel esconderam de mim todos estes anos.
- Eles fizeram bem em esconder. Não fiz nada que tenha orgulho, tento esquecer todas as noites. Foi vergonhoso. – Jan admitiu infeliz. - Foi em 1710, faltava somente cinco anos para a morte de Luis XIV, ele tinha setenta e dois anos na época e sua preocupação era a sucessão, afinal todos os seus filhos e netos haviam morrido. Mas ele continuava um caçador, Versalhes ainda mantinha seu brilho. E apesar de um pequeno declínio, a França continuava a ser uma grande potencia. As classes sociais se mantinham inalteráveis. E para evitar o tédio, a saudade, ocupar o tempo, freqüentava bailes. - falava com tranqüilidade. - Foi onde a revi. Reconheci de imediato o agitar do leque, o pescoço esguio, a boca de botão. – Jan falou sem receio. Mas pelo menos ele falava e se libertava do mutismo que só o levaria a febre. - Estava numa roda de mortais, sozinha, entediada, e sorriu mais do que satisfeita ao sentir minha aproximação. Afastamos-nos dos mortais e começamos a conversar animadamente. Falávamos de você, do Conselho, a até mesmo, a ouvi citar o nome do rei com certa reserva. Ficou encantada com o anel de favorito em meu dedo. Não tinha muitos amigos, agora compreendo o motivo. - Kmam disse fitando Otávio atento. - Não demorou muito para começarmos a sair juntos. Teatro, bailes, festas suspeitas, duelos. Consuelo sempre sabia onde havia uma festa, ou uma disputa. Era avessa a leitura, costumava tirar os livros de minhas mãos e me puxava para rua. Excitante, destemida, sedutora, uma predadora selvagem. Confessou-me, que ficou em Paris após o Conselho com esperança de reconquistá-lo Otávio, mas que você recusou a todos os seus convites.
- De fato. Rejeitei todas as suas investidas, você sequer percebeu. - Otávio falou distraidamente. - Acredita que teria sido diferente de o houvesse avisado? -Otávio quis saber.
- Não - Kmam garantiu. - Sentia-me solitário, inquieto, melancólico. E noites depois me tornei selvagem. Por certo éramos primeiros sintomas da “febre”, me tirando a razão, a calma. - notou o olhar de Otávio sobre si e afirmou. - Não, não revelei o fato à “Kara”. Não é necessário, naqueles dias era mortal, sequer saberia o motivo.
- Vergonha? - Otávio insistiu. – Ou medo de que ela condene sua ligação passada com Consuelo.
- Talvez os dois. Gosto da confiança que ela deposita em mim, vê-me como algo indestrutível, poderoso. – confessou - É, foi vergonha, receio de seu julgamento. - confessou por fim. - E falar de Consuelo, nossa “relação” custaria muito de meu orgulho, ela é tão... - faltou palavra.
- É! Ela é. - Otávio completou risonho.
- Vê-la foi consolador. Era imortal, bela, sedutora foi muito fácil ceder aos seus encantos. Após um ano de convivência intima com Consuelo, a acompanhando em suas “aventuras”, Togo surgiu a minha porta. Uma visita amigável, segundo ele, a principio falamos de tudo menos de Consuelo. Mas certamente o meu comportamento levou Togo a completar sua missão.
Togo não revelou os acontecimentos de seu passado com Consuelo. – Jan disse fitando Otávio atento, curioso. - Mas deixou bem claro que Consuelo trazia prazeres e problemas aos que se rendiam a ela. Confesso que fiquei curioso, esbocei uma carta para você, mas desisti. Estava com mais de cem anos deveria saber julgar o melhor e o pior. – declarou - Consuelo notou minhas reservas e recusas, comentei da visita de Togo. Ela nada perguntou, mas se ofendeu com minhas perguntas e simplesmente sumiu. A procurei e lhe pedi desculpas com um lindo colar feito de ônix. Uma de suas pedras favoritas. Ficou encantada. -Amantes? -Sim. – Apaixonados? - Não. Consuelo me consumia, encantava com sua independência e submissão... Fazia com que me sentisse poderoso. Nossos encontros eram intensos, fortes. Uma mistura de paraíso e inferno. Rasgava-lhe a roupa, a trazia para os meus braços pelos cabelos. Loucuras!
- Exatamente. - Otávio assegurou - Consuelo tem esse dom de nos levar ao paraíso e depois nos jogar no mais profundo e negro dos infernos.


Continua...
Cena do próximo capítulo...


Torturei e matei por prazer, no começo despertava cheio de culpa, todavia, estava nas mãos de Consuelo, da febre. E quando a fome chegava perdia a consciência, sucumbia a febre. A culpa, o medo sumiram, só restou a besta. Mantinha escravas de sangue, que logo descartava, sequer saia de casa. Bastava descer ao porão e escolher.

6 comentários:

Telminha disse...

Não posso deixar de agradecer por mais um pouquinho desse remédio homeopático que você nos dá para matar a saudade imensa que sentimos de Jan e Kara, mas tenho que dizer que seria muito melhor se as doses desse remédio fossem maiores. Curaria essa terrível saudade mais rapidamente e seríamos muito agradecidos a você. Bem, vou coçntinuar aguardando. Excelente "começo" de explicação. Mas não fica muito tempo explicando sobre esse passado não,pelo menos não agora. Nesse momento eu acho que seria melhor você nos mostrar todo o sofrimento e arrependimento de Jan por ter traído nossa Kara. Ela ignorando ele solenemente, seus pedidos de desculpas. Olha eu, já quero dirigir os próximos capítulos, risos. Desculpa, a autora é você, mas é que eu gosto muito. risos. Bjs, Telma

Marília Mendes disse...

Adorei.
Parabéns a autora!
:)

Jullya Mack Breau disse...

Pôxa....Dez dias na espera, e vem tão pouquinho.......Queremos mais, Nazareth!!!!!

karina disse...

me atrevo a dizer que sempre quando amamos muito alguém ou alguma coisa, sempre nos da a empressão que amamos mais do que os demais. por essa razão penso que ninguém ama mais esse livro do que eu. se fizessemos uma competição de conhecimentos sobre o alma e sangue, tenho certeza que eu seria um páreo duro.
bem, mesmo que nessas semanas voce não tenha postado muito, eu ainda assim a perdôo. só de saber que está empenhando seu tempo para o lançamento de alma e sangue 2, já me da uma esperança em ler ele até o fim desse ano. e admito que isso é mais do que eu esperava.
eu não sei nada do que um livro passa para chegar as minhas mãos. mas sei que tem muitos editores que não os tratam com o devido carinho. demore o tempo que for preciso, mas certifique-se que o meu jan esteja nas melhores mãos possíveis.
de um jeito estranho eu o amo, em cada homem que olho, procuro um traço dele.
oque eu não daria para ter sido eu a sonhar com ele. es muy afortunada naazareth.

beijos.

Merideise disse...

Torço tanto por você!!! Espero que consiga publicar o seu livro ou melhor seus livros, pois tenho certeza que com este dom maravilhoso deve ter muitos romances engavetados esperando a hora de serem publicados. Você merece sucesso e terá!!!!

Bjs!!!
Deise

Viviane disse...

Querida Naza, mais um excelente capítulo, pena que tenha sido tão curtinho e ficou faltando a parte que deveria estar no 8º capítulo, as cenas do próximo capítulo que estão no final do 7º (esta parte não apareceu no 8} em que Alma vê a Kara... Vc está nos matando de suspense, nem nós sabemos onde a Kara está! Estou torcendo muito pelo sucesso das negociações com os editores, pois vc sabe que estou esperando o Alma 2 já faz 3 anos... Espero que ainda possamos lê-lo este ano e tenho certeza que você tem muitas outras histórias (li inclusive O Caçador, pelo menos os capítulos de 1 ao 4 e ADOREI!) para nos maravilhar! bjos